Do Futebol à Democracia…
Em 20 de Maio de 1936, em Braga, Salazar proferia um discurso onde alinhava os valores que iriam nortear o sinistro regime que governou e atrasou Portugal durante meio século. Eram estes os 5 pilares do obscurantismo salazarista:
“Não discutimos Deus e a virtude; não discutimos a Pátria e sua História; não discutimos a autoridade e o seu prestígio; não discutimos a família e a sua moral; não discutimos a glória do trabalho e o seu dever”.
A estes parece que há quem queira juntar um sexto: Não se discute o clube e o seu Presidente.
Lamento que assim seja. Sempre achei que todos esses valores eram, pelo menos, discutíveis. O mais recente ainda mais.
Todos sabemos que as razões que presidem, no essencial, à opção que tomamos, regra geral em tenra idade, de apoiar este ou aquele clube, são essencialmente circunstanciais e não racionais. Mas isso não obriga a que tenhamos de ser, nós próprios, irracionais.
A opção, é sempre respeitável e recuso-me a encarar todos aqueles que não pensam da mesma forma que eu, sobretudo em termos clubísticos, como mais que simples adversários desportivos.
Vem isto a propósito de alguns comentários mais ou menos desbragados, motivados por um post que recentemente coloquei no MEU Facebook sobre a recente derrota do meu Sporting frente ao Estoril e às mais recentes diatribes do labrego malcriado que preside ao clube.
Acho que é um direito que me assiste.
Mais que andar a apregoar-me como livre-pensador prefiro considerar-me alguém que pensa e que é livre. E que faz da liberdade um exercício diário, sobretudo mental e não apenas um acto sazonal de colocar papéis numa urna.
Ao contrário de outros não me arrogo o direito de diagnosticar as doenças da democracia, até porque não sou médico democratologista. Mas sei que um dos sinais de saúde da democracia é o direito de opinião, não apenas das maiorias mas (e sobretudo) das minorias, não só a terem esse direito mas a poderem expô-la livremente. E claro, sem referências a “correctivos” e outras formas de coacção.
E sobre maiorias muito haveria a dizer. Hitler acabou por ser eleito e não é isso que fez dele um modelo de virtudes. Muito recentemente os americanos (ok, com uma ajudinha dos russos) elegeram Trump para presidente e não é isso que faz dele “flor que se cheire”. E então quando falamos de “turbas” as coisas ainda pioram. Ceausescu 3 dias antes de ser apeado do poder e fuzilado, tinha sido vitoriado por centenas de milhar de romenos e entre os que o fuzilaram estariam por certo alguns dos que o tinham vitoriado. Alguém me explicou como se calcula o coeficiente de inteligência da turba: pega-se no coeficiente de inteligência do membro mais desprovido da dita e divide-se pelo número de elementos da turba. Esse é o coeficiente de inteligência da turba!
Desiludam-se os que pensam que vou deixar de considerar Bruno de Carvalho um perigoso caudillo populista, labrego e mal-educado, golpista e outras coisas mais, mas todas más. Ou que vou deixar de considerar Jorge Jesus um treinador fraco, medroso e com um umbigo do tamanho do mundo, para além de igualmente mal-educado. E não é o ter ganho uma Taça da Liga (até há bem pouco tempo considerada por muitos dos que agora a enaltecem, como a Taça das Barracas, das Caricas, etc), que muda o que quer que seja da minha opinião. Eu não quero só o Sporting a ganhar. Quero o Sporting a ganhar, a jogar bem, a dar espectáculo dentro do campo, a respeitar os adversários e a ser o que foi desde a sua criação: um clube diferente e que encha de orgulho os seus adeptos.
Mas para alguns nada disso importa.
Se as notícias não são boas fazem como Dario III, o Rei Persa que mandava matar os mensageiros que as traziam.
O Sporting perdeu vergonhosamente com o Estoril e hipotecou quiçá o título (por causa do vento, claro) e quem é posto em causa não é a luminária do Jesus mas sim aqueles que como eu questionam o que anda a fazer para o salário milionário que ganha!
Não sei a que se referem quando falam do “croquete”. Não gosto particularmente. Mas também não tenho de me rebaixar ao nível da “ sandes de córatos, da bifana com muita molhenga, com uma mine morna e rebatida com um café com cheirinho”.
Os nossos adversários mais directos já passaram pelo mesmo. No Porto os sócios endeusaram o Presidente, não se preocuparam com as vozes que avisavam para o mau caminho que se trilhava e apanharam com um "Apito Dourado", No Benfica também se endeusou Vale e Azevedo e vejam no que deu. Ainda agora não me admiraria que Luis Filipe Vieira arrastasse o Benfica para um atoleiro de onde muito dificilmente sairá..
Não quero que aconteça o mesmo ao meu Sporting.
E por isso vou continuar a dizer e escrever o que penso. Não até o Jorge Jesus ganhar um campeonato para o Sporting, pois já não sou novo e não tenho saúde e anos que me restem para tal, mas pelo menos até o Camarada Presidente Bruno Chavez tomar o poder, me expulsar de adepto e me enviar para o Gulag onde terei de recitar horas a fio o mantra “Bruno é Grande e Jesus é o seu Profeta!”
Até lá continuarei a escrever no meu Fabebook, se não se importam, e quem não gostar deixe à beira do prato e desculpem qualquer coisinha!